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» » O Encontro - Capítulo liberado de Morgan: O único

Era uma casa pequena. Porém, muito simpática. A penumbra era amenizada por uma lâmpada de iluminação que dava tons amarelos ao pequeno jardim e aos tijolos à vista dos olhos. O jardim de grama aparada era enfeitado por artesanatos, numa infinidade de bichinhos e meia dúzia de duendes protegendo os vasos de pequenas arbóreas. Uma bela casa, mas com algo muito inapropriado para zumbis. Um belo cercado, com tela e mourões de madeira rústica.

A proteção, talvez, não afugentasse ladrões, mas deixava-me sem ação. Devia ter uns dois metros e meio de altura e o alumínio trançado em milhares de retângulos era, sem dúvida, uma significativa barreira para alguém de coordenação motora debilitada. Vocês dirão, e a força? Zumbis são praticamente retardados emergidos de suas covas e não tem a mínima ideia de quando e como agir quando obstáculos surgem em sua frente. Só agem por instinto. Não era o caso.

Como uma mosca tonta pelo efeito da luz, comecei a andar no entorno do terreno. Por sorte, sempre há uma brecha; encontrei-a nos fundos da casa, num local específico que aguardava por reparos. Com as pontas desfiadas do arame cutucando minhas carnes, rompi o buraco estreito na tela. Estava dentro do pátio.

Estava quase lá. No endereço onde algo inconsciente me obrigava a ir. No entanto, se uma simples cerca me impediu, como transporia paredes de alvenaria? Zumbis não pensam. Não foram criados, quer dizer, recriados com esse dom ou com essa necessidade. Minhas mãos deixavam rastros pela parede. Pedaços de carne morta produziam um grande risco vertical. Quando elas tatearam a maçaneta da porta, um leve estalo e estava aberta. Sorte de principiante, ou simplesmente descuido interiorano, o fato é que estava dentro da casa por qual caminhara dezenas de quilômetros nos últimos dias.

Os cômodos eram pequenos e aconchegantes. A entrada deu-se pela cozinha. As luzes apagadas deixavam a casa sob penumbra espessa. Alguns móveis de bom gosto decoravam com certa elegância a casa e quadros com paisagens e abstratos estavam pendurados na sala integrada à cozinha. Sobre uma estante de mogno dezenas de porta-retratos que eu ignorei, seguindo pelo estreito corredor.

Naquela noite tudo iria mudar.

Zumbis são humanos. Afinal, está nos homens nossas origens. E como os humanos, zumbis também acabam desejando sempre mais. Desta forma, cérebros, por mais que nos alimentem, não serão suficientes. É a gula, a cobiça, e não importa pelo que, mas sempre estarão presentes enquanto houver matéria, mesmo que pútrida. Nem mesmo o inconsciente que me levara ali era capaz de suprir o cheiro de cérebro que atiçava meu paladar.

Era dum cheiro especial. Feminino. Não de um cérebro atormentado como da jovem que há pouco me alimentara. Era de um cérebro em paz, sem conflitos. Um alimento sadio. Tinha perfume de anis mesclado com o refrescante aroma da hortelã. Não tinha fome, mas queria devorar tal cérebro. Queria sugá-lo simplesmente pelo prazer. Não desejava saciar minha fome e sim apenas me entregar ao mundano, ao pecado, se é que zumbis podem pecar. E apenas uma porta nos separava.

Se em terreno aberto a visão não era das melhores, dentro de casa e no escuro o borrão era quase indecifrável. Caminhava seguindo o trilho mais claro. Ele me levou até a porta do quarto. Destrancada, obviamente. Dentro daquele cofre estava o sabor pelo qual queria me deleitar, como nas noites que pagava por sexo. Abri a porta e ela rangeu levemente, riscando o azulejo. Apenas sombras. Respirei profundamente e olhei na direção do cheiro tão saboroso, a menos de dois metros de mim.

Descalço, deixava um rastro a cada passo. Minhas pernas encontraram oposição. Era o estrado da cama. Dobrei os joelhos sobre o colchão macio e engatinhei até a figura inerte em estado de sono profundo. Como era doce aquele odor. Em tempos de vida era como a ambrosia feita por minha avó. Jamais resistia a sua oferta, como não resistiria a mais uma morte. As mãos partiram com sagacidade ao pescoço da presa. Creio que fosse um padrão de ataque. A tentativa de um grito suprimido saltou pela casa, mas sem muita capacidade de viajar pelo ar. Eu conhecia aquela voz.

Aos poucos, meu corpo foi petrificando. Sentia como se cada articulação enrijecesse. Literalmente uma pedra, imóvel. Estava perplexo. Em choque. O coração, de batidas suaves desde a ressurreição, agora parecia uma bomba prestes a explodir. No que eu me transformara? Um monstro.

A visão pelo choque, como um aparelho televisor sintonizando um canal, tornava-se nítida. O quarto, tão feminino. Ursos de pelúcia sobre a cama de uma mulher solteira, ainda antes dos trinta. Fotos que expressavam momentos de felicidade. Cortinas que não impediam a entrada da tênue iluminação urbana. Tudo estava ficando claro. Tão claro que me jogava na mais profunda das trevas e fazia maldizer quem ou que me despertara.

Os olhos dela estavam esbugalhados. A face ficava cada vez mais roxa pela insuficiência de ar irrigando seus pulmões. Os seios desnudos apontavam para o alto, acesos qual um farol iluminando o mar. O lençol caído não protegia o corpo seminu coberto por uma minúscula calcinha branca de algodão. Minha visão estava tão nítida que podia perceber o acolchoado fofo de seus pelos pubianos sob o tecido. Suas coxas torneadas tentavam se movimentar numa vã tentativa de fuga. Porém, nem mesmo todo o pavor que sentia era capaz de ajudá-la a escapar de minhas mãos. Por Deus, estava prestes a devorar o cérebro de Rebeca.

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